A reprovação é um tema bastante polêmico e as opiniões a respeito da mesma dependem totalmente do modo de pensar e da visão de cada pessoa. Alguns acreditam que a reprovação é o pior passo que pode ser tomado e imposto no processo de ensino/aprendizagem, mas outros acreditam que a reprovação é uma forma de fazer com que a aprovação automática ou sem bases sólidas seja levada a frente e entregue de bandeja na mãos dos alunos. Qual a verdadeira importância da reprovação? É positiva ou negativa? Acredito que a melhor forma de responder a essa pergunta, seja ter contato com quem já sentiu isso na pele e entendeu o efeito que a reprovação teve em sua vida. Para isso, eu e minha amiga de dupla, Clara e Silva Campos, do blog
Diário de um educando, realizamos uma breve entrevista com um aluno repetente de colégio público, onde ele expôs o que pensa e como foi passar pelo reprovação. É importante deixar claro, que o
nome escolhido é fictício, optamos por não expor o nome verdadeiro do aluno. Confira a seguir:
1 - Lucas, foi reprovado uma única vez?
Resposta: "Sim, uma só vez."
2 - Que série estava cursando?
Resposta: "Estava na 7ª série."
3 - Agora está no 2º ano do Ensino Médio, não é?
Resposta: "Isso."
4 - Você consegue entender os motivos que causaram a sua reprovação? O que te levou a ser reprovado?
Resposta: "Eu acho que os motivos foram a minha falta de interesse e a raiva ue os professores tinham de mim. Eu não gostava da escola, nem dos professores, nem do tempo que eu passava lá. Eu ia obrigado. Odiava estudar."
5 - Você não fazia os trabalhos, provas, exercícios de casa?
Resposta: "Não, eu não fazia nada. Ia só pra zuar com os meus amigos mesmo."
6 - Por que você não gostava da escola e nem do tempo que passava lá?
Resposta: "Nenhum professor gostava de mim, eles me achavam muito bagunceiro e mandavam eu ficar quieto na aula. Me expulsaram de sala várias vezes."
7 - Como você se sentia com isso? Como reagia?
Resposta: "Eu ficava com muita raiva, porque eu não queria ficar calado na aula, sabe? Eu não gostava de estar lá, era horrível pra mim. Minha professora de português, por exemplo, a Dona Marlene (nome fictício), falava que eu era o pior aluno da turma e que era doida pra se livrar de mim. Ela falava que não ia me aceitar na turma no outro ano. Aí, só de raiva, eu não fazia nada dela, não respeitava mesmo."
8 - Essa falta de atenção só porque você era bagunceiro, fez com que você ficasse com tanta raiva que decidiu largar de mão?
Resposta: "Sim. Não queria mais saber de nada."
9 - Quando foi reprovado, como se sentiu?
Resposta: "Na verdade, eu já sabia que ia ser reprovado pelo que falavam, mais mesmo assim eu fiquei muito triste e com muita vergonha, porque eu vi todos os meus amigos indo pras outras turmas e eu fiquei na mesma. Só encontrava com eles na hora do intervalo e tive que estudar com pessoas mais novas que eu. Eu era muito zuado por isso."
10 - Como seus pais reagiram? Eles souberam assim que você soube ou você só contou depois?
Resposta: "Eu escondi o boletim deles, mas a minha mãe pediu pra ver porque ela já sabia que estava comigo e quando ela viu, ficou com muita raiva, me deixou de castigo, chorou e tudo. Foi tenso."
11- Eles acompanhavam como você estava se desenvolvendo na escola? Iam as reuniões de pais? procuram saber o que estava acontecendo ou eram desligados em relação a você como aluno?
Resposta: "Eles perguntavam de vez em quando, não participavam muito não, mas eu até gostava disso, porque tinha menos pressão em cima de mim, né?"
11 - E que lição você tirou disso? A reprovação, pra você, serviu como incentivo pra ser um aluno melhor ou só te deu mais raiva da escola de um modo geral?
Resposta: "Olha, pra mim, serviu como mais um motivo pra ter raiva de tudo, porque mesmo sendo super bagunceiro, eu não queria reprovar, mais fiquei com muita raiva quando eu fiquei sabendo que os professores me odiavam. É muito ruim saber que os professores ficam falando mal de você e ficam doidos pra você sumir. Isso me marcou demais. Hoje, eu sou um aluno melhor, faço os trabalhos, provas, alguns exercícios, alguns (risos), mas eu só mudei porque eu mudei de escola e essa escola que eu estudo agora eu não odeio, eu gosto de alguns professores, dos meus amigos. É bem melhor. É outra coisa."
Bom, a partir da realização desta entrevista, pude perceber que a reprovação, mesmo que seja imposta com algum sentido distorcido de justiça, serve apenas como uma forma de deixar com que o aluno seja cada vez mais taxado como atrasado ou até mesmo, incapaz de estar junto aos outros, no mesmo nível. Os professores não se encontram preparados para lidar com alunos que possuem um pouco mais de dificuldade e isso, talvez seja um dos principais fatores que resultam no fracasso escolar atualmente. Existem muitos outros meios mais eficazes de fazer com que um aluno "problemático" alcance o que está sendo deixado para ele. O acompanhamento constante do aluno é a melhor forma de fazer com que ele seja um aluno que alcance todos os resultados positivos que são possíveis e até mesmo "normal", mas é de suma importância que isso seja entendido também pelos familiares, pois a educação é uma junção entre escola, família, conteúdo, aluno e interesse. A questão não é reprovar ou aprovar, mas sim o desafio de que o aluno aprenda.